Jogos digitais: um novo start na Gestão Pública

Tempo de leitura: 6 minutos

Humberto Dantas 

01 de março de 2021 | 09h28

Autores do texto:

Tadeu Luciano Seco Saravalli é Advogado, Consultor, Especialista em Gestão Pública pela UFScar, Líder MLG, Mestre em Ciências Sociais pela UNESP (Área de Relações Internacionais e Desenvolvimento), Membro da Comissão Especial de Direito Digital da OAB-SP e Integrante da organização Advogados Sem Fronteiras (ASF-Brasil). Tem experiência profissional na advocacia/consultoria para municípios, já exerceu cargos públicos na Administração Pública de Bauru, Birigui e no Governo do Estado de São Paulo.

Marcos Maia Júnior é Designer Gráfico pela UNESP, Mestrando em Mídias e Tecnologia pela UNESP (Área de Tecnologias Midiáticas). Foi Designer Gráfico no Jornal da Cidade de Bauru, TV UNESP de Bauru e MSTECH; como também Motion Designer, Artista Gráfico 3D, Animador Digital 2D e 3D e Desenvolvedor de jogos mobile para empresas como Apple, Android, entre outros. Atualmente é professor de designer de games na Microcamp Tecnologia e CEO e Founder da Maia Creative.

No texto, os autores falam sobre o impacto dos jogos digitais na sociedade,  que tendem a promover uma amplitude dos sentidos humanos e pode modificar os hábitos humanos. Eles citam o programa GameRS, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, que visa contribuir para o desenvolvimento do setor de jogos digitais. Leia mais:

Na última semana de fevereiro deste ano, foi aprovado pelo Plenário do Senado Federal, o Projeto de Lei n° 317/2021, que dispõe sobre princípios, regras e instrumentos para o Governo Digital e para o aumento da eficiência pública, conhecido também como “PL das GovTechs”. Ele teve sua tramitação encerrada sendo encaminhado para a sanção do Presidente da República.

A iniciativa normativa está alinhada com o momento da transformação digital que atravessam todos os segmentos da sociedade global e viabiliza um ambiente para o estímulo de criação de startups voltadas para atendimento de políticas públicas, por meio ferramentas inovadoras para a gestão pública, utilização de sistemas informatizados para a gestão, laboratórios de inovação, trâmite de processos administrativos eletrônicos, abertura de dados, big data, prototipação de softwares, sendo possível, embora no projeto não seja explícito, o uso de jogos digitais.

O que se observa é que a humanidade em diversas épocas fundamentam suas ações em padrões comportamentais, que ao longo dos anos se atualizam com o domínio de técnicas e desenvolvimento de costumes. Neste aspecto, a instantaneidade do avanço tecnológico constitui novas atualizações na forma de realizar os mesmos afazeres domésticos, negócios financeiros e com os serviços públicos não é diferente, tanto que a futura lei se destina a administração pública direta e indireta de todas as esferas do Poder Executivo, Poder Legislativo, Cortes de Contas, Poder Judiciário, Ministério Público, concessionárias, permissionárias e delegatários de serviços públicos.

O interessante diante destas mudanças é que os jogos, ao longo dos anos, também sofreram alterações atribuindo-se o hábito de jogar diversos significados na sociedade durante este período. Noutras palavras, os jogos são formas legítimas de mídia e manifestação humana, que refletem as normas e crenças de cada época, encaixando-se perfeitamente neste novo modelo de gestão pública digital de forma favorável para os gestores públicos, servidores e cidadãos.

Da mesma forma, o impacto que os jogos causam na sociedade moderna também é possível proporcionar novas possibilidades de pesquisas e produção, os quais geram um corpo de conhecimento e aprendizagem capaz de ampliar os resultados de eficiência na administração pública para a solução dos problemas urbanos complexos.

Isto porque, desde o surgimento dos jogos digitais como o primeiro jogo Spacewar – 1962 até os dias atuais houveram inúmeros avanços no setor e que atualmente tem nas tecnologias existentes a possibilidade de construção de jogos digitais e games mais interativos, que utilizam de novos conceitos de interface, como é o caso das tecnologias de Realidade Virtual e Realidade Aumentada, para a promoção de múltiplas experiências conectadas com as demandas públicas objetivando a melhor qualidade de vida para o cidadão.

Além disso, a Realidade Virtual e Realidade Aumentada, tendem a promover uma amplitude dos sentidos humanos, e que denomina-se também como interfaces naturais, sendo elas a visão, audição, olfato e o tato de objetos digitais tridimensionais, estas características provocam uma ação menos passiva do usuário aos símbolos computacionais representados, criando assim um mundo exclusivamente imersivo e diretamente interativo, porém virtual. As barreiras que os jogos geralmente vêm rompendo nas novas formas de manifestação midiática favorecem a sociedade e a gestão pública, experiência um ambiente muito mais convidativo as interações, com um alto teor cognitivo que somente eram imaginadas nos filmes, desenhos animados, revistas em quadrinhos entre outros. Podemos acreditar positivamente que esta nova ferramenta tecnológica consiga mudar os hábitos humanos, na qual podemos chamar do cerne de um problema global, a educação.

Não é à toa que o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, na vanguarda da gestão pública, lançou em meados de 2020, o programa GameRS por meio da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia em parceria com as Secretarias de Cultura, da Educação e do Desenvolvimento Econômico e Turismo. O que se observa é que a intenção do GameRS é contribuir para o desenvolvimento do setor de jogos digitais no Estado gaúcho visando ao fortalecimento econômico e social, da indústria; ampliando a competitividade internacional, acesso de financiamentos e ampliação de políticas públicas com o foco para o poder público ser o indutor do consumo público e privado.

A medida do governo gaúcho está em sintonia com os estudos da Superdata, consultoria do grupo Nielsen do setor de games, quando aponta que o mercado deste segmento é um dos poucos que tem conquistado bons resultados durante a pandemia. De acordo com o 2° Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais (2018) e Pesquisa Game Brasil (2020) há 375 empresas desenvolvedoras de jogos em atividade, sendo 40 delas no Estado do Rio Grande do Sul, com uma tendência de crescimento, principalmente, em razão da alta do dólar.

Nesse sentido, o projeto de lei federal do Governo Digital, que permite a inserção dos jogos digitais é um marco de rupturas e transformações no modo de administrar o poder público, porém, é relevante não perder a sensibilidade e humanidade para não se construir gestores públicos robotizados, tão somente, transformar o perfil do gestor público analógico para o gestor público digital, mas sempre humanizados.

Fonte: Estadão

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